Vulnerabilidade é sinal de força, não de fraqueza.
- Sheyla Pereira
- 19 de nov.
- 2 min de leitura

Há momentos na vida em que somos convidados a nos despir das armaduras que usamos diariamente. Nem sempre percebemos o quanto essas defesas pesam, até que o corpo e a mente nos sinalizam que já não conseguimos carregar tanto sozinhos. A vulnerabilidade nasce exatamente nesses instantes, quando reconhecemos que algo dentro de nós pede cuidado, presença e verdade.
Durante muito tempo, aprendemos que mostrar fragilidade era perigoso, um risco de sermos julgados, rejeitados ou vistos como incapazes. Por isso, tantos de nós cresceram acreditando que a força está em suportar tudo em silêncio. Porém, a experiência clínica e humana revela o contrário: a coragem não está em se esconder, mas em permitir que o que é genuíno venha à superfície.
Ser vulnerável significa assumir a própria humanidade. É admitir que temos limites, necessidades, medos, sonhos e histórias que às vezes doem. Não se trata de dramatizar a vida, mas de reconhecer aquilo que já existe dentro de nós, mesmo quando preferiríamos ignorar. Essa honestidade interna exige maturidade, porque demanda olhar para si com clareza, sem máscaras, e isso é profundamente transformador.
Quando nos autorizamos a sentir, abrimos espaço para compreender o que nos toca, o que nos machuca e o que nos fortalece. A vulnerabilidade funciona como uma janela que nos mostra onde estão nossas feridas e, ao mesmo tempo, onde reside a possibilidade de cura. Ela nos aproxima de quem realmente somos, em vez de nos manter presos a personagens que desgastam e distanciam.
Há ainda um aspecto silencioso, mas poderoso. Ao compartilhar vulnerabilidades com alguém de confiança, construímos vínculos mais verdadeiros. Relações autênticas não nascem do perfeccionismo, mas do encontro entre duas pessoas que se enxergam para além das aparências. A sensibilidade cria ponte; o fechamento cria muros.
É importante lembrar que ser vulnerável não é perder o controle, nem entregar-se ao acaso. É escolher, conscientemente, abrir espaço para a própria verdade, inclusive quando ela é desconfortável. Esse movimento requer presença, discernimento e, sobretudo, coragem. E coragem é uma forma indiscutível de força.
A vulnerabilidade também nos ensina a respeitar os próprios limites. Quando conseguimos dizer “isso está pesado para mim” ou “eu preciso de ajuda”, estamos agindo com responsabilidade afetiva. Não é fraqueza reconhecer que não podemos tudo; é sabedoria entender que ninguém caminha sozinho o tempo todo.
Por fim, permitir-se ser vulnerável é aceitar que estamos em constante construção. Nenhum de nós é feito de certezas fixas. Somos feitos de movimentos, de tentativas, de avanços e recuos. Reconhecer isso não nos diminui; nos humaniza.
A força não está na rigidez, mas na capacidade de se manter presente mesmo quando algo dentro de nós treme. Ser vulnerável é um gesto de coragem íntima, um passo em direção à autenticidade e um convite para viver de forma mais leve, mais inteira e mais verdadeira consigo mesmo.




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