Por que é tão difícil manter o compromisso com a terapia?
- Sheyla Pereira
- 1 de nov.
- 2 min de leitura
Ao longo de anos na prática clínica, acompanho pessoas em diferentes fases da vida e contextos, uma questão se repete de maneira constante: a dificuldade de algumas pessoas em manter um compromisso consistente com a terapia. À primeira vista, pode parecer simples atribuir isso à falta de disciplina ou interesse, mas a realidade é muito mais complexa e merece uma reflexão aprofundada.

Um fator pouco discutido é a relação da pessoa com a própria vulnerabilidade. Procurar ajuda psicológica implica abrir-se para sentimentos que muitas vezes foram negados ou minimizados ao longo da vida. Isso pode gerar desconforto intenso, ansiedade e até medo de se confrontar com aspectos dolorosos da própria história. Nesse contexto, o abandono da terapia pode funcionar como uma forma de autoproteção, ainda que prejudicial no longo prazo.
Outro aspecto relevante é a expectativa irrealista sobre resultados. Algumas pessoas chegam ao consultório esperando mudanças rápidas ou soluções mágicas. Quando percebem que o processo é gradual e exige esforço contínuo, podem sentir frustração e decidir interromper o tratamento. Essa dificuldade em tolerar o tempo do desenvolvimento emocional é mais comum do que imaginamos, e muitas vezes é reforçada por uma cultura que valoriza soluções imediatas.
Além disso, fatores externos também desempenham um papel significativo. Rotinas sobrecarregadas, questões financeiras, falta de apoio familiar ou social, e até o estigma relacionado à saúde mental podem dificultar a adesão ao processo terapêutico. Muitas vezes, o problema não está no desejo de cuidar de si mesmo, mas nas barreiras práticas que tornam o compromisso consistente mais desafiador.
Por fim, é importante destacar que o vínculo com o profissional é um elemento crucial. Sentir-se compreendido, acolhido e seguro no espaço terapêutico é determinante para que o indivíduo persista. A ausência desse vínculo pode gerar desmotivação, levando a desistências prematuras.
Compreender esses fatores permite olhar para a dificuldade de compromisso não como uma falha pessoal, mas como um reflexo de múltiplas camadas emocionais, cognitivas e contextuais. Reconhecer essas nuances é o primeiro passo para desenvolver estratégias que promovam constância, resiliência e um engajamento genuíno com o próprio processo de cuidado.

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